Asa Branca

>> segunda-feira, 26 de setembro de 2011


Toda vez que paro pra pensar no meu avô Lourival, três lembranças vem facilmente à minha cabeça. A primeira é de quando eu tinha cinco anos e estava internada com uma crise de artrite reumatóide juvenil, que me deixou meses no hospital. Em todas as visitas, sem exceção, meu avô me levava pão de queijo. Daqueles bem murchinhos, de padaria, que ele sabia que era o que eu mais gostava. Me passava o saquinho por debaixo da mesa para os médicos não verem e me fazia muito feliz!

Outra coisa que me lembro bem é que, certa vez, quando eu ainda estava internada, minha mãe não gostou de um banho de gelo que os médicos me deram pra baixar a febre. Ligou pro meu avô, disse que não queria que eu ficasse naquele lugar nem mais um minuto e que iria me arrancar de lá. Na mesma hora ele correu pro hospital e ajudou minha mãe com o "sequestro". Nunca vou esquecer aquela cena. Parece que foi ontem. 

Apesar de ser muito novinha, também me lembro de alguns momentos antes de tudo isso. Lembro que meu avô tinha um acordeon pelo qual era apaixonado, e passava muito tempo com ele tocando, entre outras coisas, Asa Branca, do Luiz Gonzaga. Aos domingos, era lei todos os filhos e netos passarem a tarde na casa dele. Minha avó fazia bolo de laranja, café de coador e a gente fazia a maior bagunça! E eles amavam aquilo! Brigavam com a minha mãe se ela brigasse com a gente! Não lembro de nenhum outro domingo que tenha sido mais gostoso do que aqueles, ao lado deles. Meus avós sempre foram as pessoas mais importantes dessa família. Sempre!

Quando o Alzheimer levou minha avó Izabel, meu avô foi morar com os filhos. Nessa época o Parkinson também já estava por aqui, bem lento e impiedoso, tirando ele de nós aos poucos. 
Ele era o último dos meus avós e foi embora no último sábado. Escolheu a primavera pra se despedir, claro, porque ele era esperto. E no lugar que era dele, agora ficam só as lembranças. Que são muitas, e que são lindas, mas que nunca serão suficientes para preencher o espaço vazio que ele deixou aqui. 

Eu tenho certeza que ele está mais feliz agora, sem dor ou sofrimento, e isso me basta. Ao invés de maldizer a vida, prefiro pensar que nesse momento ele está ao lado da avó Izabel, de quem sentia tanta falta, tocando Asa Branca enquanto ela rodopia o vestido, feliz por estar ao lado dele novamente, em algum lugar cheio de rosas amarelas, onde sempre é primavera. 

Mas eu sou humana. E seres humanos são, por vezes, muito egoístas. Então, me permita dizer que eu gostaria muito mais que ele pudesse ficar aqui pra sempre e usar esse espaço que até hoje só se leu felicidade, pra chorar um pouco a saudade do homem mais digno que já conheci. 

 

15 comentários:

Laura Moreira 26 de setembro de 2011 às 10:22  

Ele está bem, Michele. E muito mais perto de você.
Fique bem.
Um beijo.

Mirelle 26 de setembro de 2011 às 11:12  

Lindas palavras Michele.

Com certeza ele continuará cuidando de você, e torcendo por sua felicidade sempre.

Fique com Deus, um beijo.

Mariana Soares 26 de setembro de 2011 às 16:04  

Michelle, sinto muiot pelo seu avô.
E de acordo que lia seu texto ia recordando do meu que foi embora há uns 4 anos.
Saudadeee demais.
Seu texo tfoi belissimo, e retratou muito bem todo o carisma, e carinho que vc tinha por seu avô.
Morro de vontade de poder colocar em palavras a saudade que tenho por meu pai, e vi nas suas um insentivo para escrever.
Rezarei por eles !!!
Acompanho seu blog a um tempinho e foi um prazer ler seu texto nessa tarde.
Um abraço Carinhoso de sua leitora.

Mariana.

Lidiane_horacio 26 de setembro de 2011 às 16:06  

Nossa  lindo o q vc escreveu!!!!

Adoreiii!!

Com crtz ele está em ótimo lugar.
bjs :*

Tatiana 26 de setembro de 2011 às 20:08  

Que delicia deviam ser esses domingos! Grande privilégio ter um avô sanfoneiro!
Fique com Deus!
Bjs!

barbaraccosta 26 de setembro de 2011 às 22:34  

Esse foi o post mais lindo e cheio de saudade e amor que já lí... Fiquem bem!

Aps 27 de setembro de 2011 às 09:24  

Deus te proporcionou de ter tido um avô, e não somente um avô, mas um heroi, um grande inspirador!

Guarde a sua Fé, suas lembranças, e o amor.. e prepare-se para os ciclos da vida, que são maravilhosos e ricos em oportunidades e previlégios.

bj carinhoso, como esse da foto.

Amanda 27 de setembro de 2011 às 12:04  

Querida, eu entendo perfeitamente seu sentimento. Hoje seria o aniversário do meu único vô que já se foi. Uma criança eterna, nascida no dia de festa das crianças (São Cosme e São Damião). Ele sempre me chamou de "a neta mais linda do vô". Embora ele tivesse mais 8 netas meninas e um sem fim de netos meninos. E eu sempre fui a mais gordinha de todas, mas ainda assim ele sabia que me arrancava um sorrisão quando dizia que eu era a mais bonita. Coisas que só vô sabe fazer. Se permita sentir seu luto, mas tenha certeza de que retornar para nossa "casa" é um grande descanso. Eu sempre me agarro nisso quando penso na minha mãe e no quão doentinha ela está. Fique em paz. Bjos e Melhoras, Amanda

Denise 28 de setembro de 2011 às 23:09  

Engraçado... nem ao menos sei quem vc é, mas há um tempo atrás eu pensei que iria me casar, e de tantas pesquisas encontrei seu blog, e vc no seu vestido de noiva perfeito.... Achei tudo lindo. Hoje, tive uma discussão c/o homem q amo, joguei um montão de dúvidas a nosso respeito, cheguei a pensar q não o amo tanto qto acho. Depois de tudo isso, pensei no meu avô, que assim como o seu foi embora de mansinho e deixou uma saudade enorme! Pensei q ele poderia me ajudar a encontrar uma casa e então, finalmente, casar. Pensei no quanto só ele saberia me dizer qual o lar perfeito para que eu e meu namorado posssamos comprar e viver felizes. Mas sabe?! Ele não está aqui, só a saudade e um vazio enorme.... porém acredito q ele está bem feliz ao lado da minha avozinha q o deixou tão de repente. Meu avô adorava uma festa e música boa, quem sabe ele não se tornou amigo do seu avô e estão num grande baile? Gostosa a ideia, né?!
Que bom q por algum motivo quis novamente ver seu blog, achei lindo o q vc escreveu e aqueceu meu coração.
Denise

Diana 29 de setembro de 2011 às 13:39  

Michelle,
Sinto muito por sua perda...
Já perdi alguns entes queridos e sempre que penso neles faço uma oração. Isso me conforta!
Espero que você encontre também a melhor forma de lidar com essa situação.
Fique bem.
Bjos

Juu Oliveira 14 de outubro de 2011 às 20:51  

Nossa Que coisa mais linda!! Ele onde quer que esteja sabe o quão sinceros são seus sentimentos!!
Tudo o que vc escreveu aqui me emocionou e olha que isso não é facil, mas tudo que vc escreve aqui, desde antes de casar SEMPRE ME EMOCIONARAM.
Vc e o Rafael são aquelas pessoas que a gnt vê por fotos e pensa "Ain eu queria ser amiga deles" hehe.
Que Deus te fortaleça e que vc possa guardar a alegria de cada lembrança que ele deixou.
Grande abraço!!

Michele Navega 14 de outubro de 2011 às 20:53  

:-) <3


Em 14 de outubro de 2011 20:51, Disqus
<>escreveu:

Laise 24 de janeiro de 2012 às 22:30  

Há tempos não vinha por aqui e, mais uma vez, me emocionei muito com suas palavras. Engraçado que nunca tenho paciência de ler os textos dos blogs em que entro, mas aqui é diferente. Escreva sempre, querida, você tem um dom impressionante de tocar as pessoas! Não o desperdice!
Receba muito carinho de uma noivinha que, vez ou outra, está por aqui.

Michelli Maciel 29 de janeiro de 2012 às 23:33  

Michelle, conheci o seu blog hj e ao ler o seu texto, veio de imediato uma identificação com a sua história, o meu vozinho também tocava sanfona e muitas vezes eu ficava ouvindo suas cantigas... infelizmente, assim como o que aconteceu com o seu, o meu partiu inesperadamente em 2005, deixando pra trás muita saudade... é com lágrimas nos olhos que escrevo este comentário, na esperança de compartilhar esse sentimento contigo, pois somente quem passou por essa situação sabe o quanto isso significa, e poder expressar esse sentimento, esse carinho e esse amor, é fundamental. Nós duas fomos privilegiadas, pois tivemos a oportunidade de passar momentos inesquecíveis com essas figuras tão incomparáveis e ao mesmo tempo tão simples, que fizeram toda a diferença na nossa formação.
Obrigada por compartilhar sua linda história.
Bjim.     

Michele Navega 30 de janeiro de 2012 às 00:34  

*approve
*



Em 29 de janeiro de 2012 23:33, Disqus
<>escreveu:

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