I carry your heart

>> terça-feira, 10 de maio de 2011


Já disse aqui o quanto a avó Tereza ficou emocionada com o convite para levar nossas alianças. Mas já dissemos o quanto eu e Rafa nos sentimos honrados por ela ter aceitado? Impossível mensurar!
Antes do casamento a gente sempre "viaja" tentando antecipar a emoção dos acontecimentos daquele dia. Imagina como será a entrada de cada integrante do cortejo, os votos, o beijo, a primeira dança... Sonhar com o dia do casamento é quase tão bom quanto casar mesmo. E de todos os momentos, o que a gente mais "viajava" imaginando era a entrada da avó com as alianças. Nas nossas cabeças, visualizamos várias vezes  como seria a entrada dela ao som de She. Para nós foi realmente uma honra enorme tê-la alí, com a missão de não apenas entregar as alianças, mas de homenagear todas as nossas outras avós que adorariam estar ao nosso lado naquele dia, testemunhando tudo. E, de verdade, foi um dos momentos mais emocionantes do casamento!

Um momento que por pouco não aconteceu.

Ok, eu explico: a avó Tereza mora em Guaratinguetá e desde o início estava combinado que, ao contrário do restante da família, que aproveitou para passar o feriado inteiro na cidade, ela iria para o Rio só no dia do casamento. Ela é uma senhora, tem sua própria rotina, seus costumes, manias, e para ela não parecia ser tão divertido assim passar quatro dias numa casa lotada de gente, quanto era para o restante da família. Pra nós, tudo bem. Afinal de contas, tudo o que queríamos era que ela fosse muito feliz naqueles dias, que curtisse o fato de estar participando daquilo tudo como uma parte realmente muito importante do todo. Então, da mesma maneira como ela ficou absolutamente livre para escolher que roupa usar, ficou livre para escolher também como e quando chegar. Só que, né?, dona Tereza é uma senhorinha muito da chique e decidiu chegar de jatinho. Muito chique!

Mas vocês lembram como foi o dia do meu casamento? Céu encoberto, São Pedro numa dúvida danada se mandava chuva ou não, e não tinha visibilidade suficiente pra vovó colocar o jatinho chiquetoso em ação. 
Conclusão: em cima da hora teve que ir de carro e pegou um trânsito danado. Crianças dentro do carro, trânsito parado, a hora do casamento chegando, mais trânsito em Laranjerias por causa de uma obra (o Casa Cor no meio do caminho foi um plus) e uma barreira no meio da Almirante Alexandrino que fez o motorista ter que dar a volta e tentar outro caminho. No meio dessa confusão toda, o cortejo do casamento já estava entrando. Uma das tias do Rafa ficava, por telefone, monitorando a chegada da vó. Entram pais, padrinhos, noivo, e todos se perguntando, cadê vó Tereza?, cadê vó Tereza? A noiva parecia ser a única que não fazia ideia de nada disso. Entrei, começou a cerimônia e nada da vó chegar!

E o que fazer se ela não aparecesse? Nada. Ninguém sabia o que fazer. Nem o noivo, juíza ou mesmo a cerimonialista saberiam o que fazer, simplesmente porque não havia um plano B para aquilo. Nunca cogitamos a possibilidade de ser outra pessoa a levar nossas alianças, e eu ficaria muito, muito triste se na  hora aparecesse qualquer outra pessoa que não fosse ela. Preferia que alguém do cerimonial chegasse discretamente por trás do altar, entregasse as alianças e saísse. Só que ninguém sabia disso, porque  ninguém avisou a noiva tudo o que estava acontecendo. Até porque, se tivessem avisado, eu JAMAIS teria entrado antes da chegada dela. Atrasaria tudo, mas não entraria!

Até que depois de muitas ligações, muitos monitoramentos via celular, muita correria no backstage, como num passe de mágica, exatamente na hora que a juíza (que também não estava sabendo do atraso) pediu para a avó entrar com as alianças, começa a música e para um carro em frente a entrada! Era a vó Tereza! Só deu tempo da cerimonialista abrir a porta do carro, entregar o pratinho com as alianças e dizer: vai vó, é a sua vez!
Ela, ainda meio confusa, tadinha, preocupada com o horário, pegou as alianças, respirou fundo e entrou linda, sorridente e emocionada, ao som de She, de Charles Aznavour:


Rafa e eu olhamos as fotos do relicário algumas vezes durante o trajeto dela. Beijamos as fotos das nossas avós, pensamos no quanto tínhamos certeza de que elas estavam presentes alí, torcendo por nós dois, abençoando nossa união, e foi difícil segurar a emoção... Os dois choramos, padrinhos choraram, tios, amigos, primos, todo mundo chorou. Sem dúvida, um dos momentos mais emocionantes do dia!
Ela veio com um sorriso tão lindo... Tão sincero e carinhoso. Foi realmente difícil segurar. Ainda me arrepio quando lembro e choro enquanto escrevo essas linhas.

E a vó virou a pop star do casamento! Todas as máquinas fotográficas se levantaram tentando buscar o melhor ângulo para fotografar a noiva avó. Sim, fez mais sucesso do que eu, fato! Logo eu que não quis nenhuma criança fofa no cortejo que desviasse toda a atenção de moi, perdi todos os olhares para uma senhorinha infinitas vezes mais fofa do que qualquer criança, com um pratinho de cerâmica na mão com o escrito em baixo relevo "I carry your heart".
Mas ela podia! :-)









"I carry your heart with me
(I carry it in my heart)
I am never without it
(Anywhere I go, you go, my dear;
and whatever is done
by only me is your doing, my darling)"
- e.e. cummings -


(Hoje seria aniversário da avó Izabel - a da esquerda. Saudade que não cabe em mim!)


Fotos: Aline Machado

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